domingo, 15 de novembro de 2015

Insônia

O pensamento
Não parava de pensar em ti
O relógio
Não parava de contar o tempo
Vinte
E
Duas
Vinte
E
Três
Zero hora

O pensamento
Livre da barreira do tempo e do espaço
Batendo as asas
Alcançou-te em
 Um instante

Eu
Sem asas para voar
Andava num caminho pedregoso
Levando no meu ombro
A carga pesada de saudade

Ele,
O pensamento
Respirava do charme de teus olhos
Sussurrando nos teus ouvidos
O perfume de sua paixão
Descansando na beira de teus lábios

O relógio
Continuava contando o passar do tempo
Uma hora da madrugada
Duas horas
Três horas da madrugada

O pensamento
Envolvendo-se contigo
Ficando pouco a pouco teu íntimo
Esquecendo de mim
Não abria a porta para o sono

Eu
Para distraí-lo
Dei-lhe uma folha branca
Para que ele escrevesse o que eu digo
Margarida
Orquídea
Violeta
Caçadora...

Olhei-lhe um momento
Pelo canto dos olhos
Ele tinha escrito
Na folha inteira
Repetidamente
Nada mais que o teu nome
... ...
... ...

O relógio
Continuava contando
Eu
Continuava lendo teu nome
A porta
Continuava sendo fechada
E o sono
Dormia
Fora

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   Autor: Rafi M. P

   12/01/2015

domingo, 1 de novembro de 2015

Quando tu foste

Quando tu foste
O sol
Retirou a tenda dourada
Do campo de tua vida
A lua
retirou os lençóis brancos
E o não ser
Apropriou-se de teu campo
Apagaram-se as janelas
Para os mares
Para as florestas
Para as estrelas ...
Não ficaram
Nem luz nem trevas
Os olhos
Procuram-te
Em vão
Na vaga

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     Autor:Rafi M. P - 2015
   

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Aylan



Quem  tu és?
Um anjo para te ninar
Oi, Aylan!
Voltou querido
Da terra
Quase sem chegar

Está montado na terra
Um teatro de falsidade
Pelos ávidos de poder

Os protagonistas
Pintam suas avarezas
Pela cor azul do céu
Pintam suas camisas
Disfarçam-se cantarolando
As palavras
Dos mensageiros divinos

Uns dizem
Ter a missão de triagem
De homens no caminho do paraíso
De homens no caminho do inferno
Outros dizem
Ter a missão pacificadora
E são arquitetos talentosos
Instaladores de perfeita governança
Na superfície da terra
E perfeitos executores
Da Carta Magna
Dos Direitos Humanos

Mas atrás das cortinas
Reina a avareza ferrosa
Os concorrentes
Para chegarem ao ouro de avareza
Cavam as vidas
Pelo instrumento de fogo
Jogam-nas como a terra
Na terra e no mar
Incendeiam, vitimam

Tu és uma dessas vítimas
Entregue para mim
Pelos braços do mar
Para mim!
O anjo!
Para te ninar.

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(Aylan:nome de um menino de três anos,
filho de refugiados, achado afogado na beira do mar
Mediterrâneo.)
Autor: Rafi M. P